A mudança de eixo decisório na hora de contratar TI é o reflexo de uma realidade em que pouco importa qual a tecnologia e sim os resultados que ela trará.
Por José Azevedo, CEO da Softline Brasil
Há pouco tempo, a TI era semelhante ao conhecido conto da caixa de pandora. Ou seja, todos tinham medo de abri-la, unicamente porque pouquíssimos entenderiam o que poderia sair de lá de dentro (a não ser, é claro, os experts da área). Passados alguns anos, uma coisa segue igual, afinal poucos se arriscam a abrir tal caixa. Um desavisado afirmaria sem receio: muito pouco mudou, correto? Certamente não. Muito mudou.
A metáfora é um atalho para justificar uma constatação. Antes, não se abria porque não se entenderia. Agora, não se abre pelo simples fato de que não interessa mais o que está dentro da caixa. Dando fim às alegorias e partindo para o discurso direto, os gestores querem saber os resultados que a TI promove para a empresa e não mais se a tecnologia x ou y é a de ponta no mercado.
Essa mudança ampliou a percepção do papel da TI junto a uma corporação. Por mais paradoxal que possa parecer, esta é a realidade. Os executivos entendem menos do técnico, mas enxergam cada vez mais a TI. E isso deslocou o eixo decisório das contratações, investimentos e, principalmente, das estratégias baseadas na tecnologia. Para um e-commerce, por exemplo, um minuto de indisponibilidade pode representar inúmeros negócios perdidos. Um CRM sem informações concisas afeta o marketing, o financeiro, o comercial. Gestores entenderam que seus sistemas e suas ferramentas não são mais adendos a estratégia, são a estratégia em si.
Extrapolando um pouco mais, vemos isso como reflexo da forma como as novas empresas nascem ou se estruturam. Afinal, os maiores operadores de hospedagem não possuem mais um único hotel, seja próprio ou de um parceiro comercial. Grandes varejistas dispensaram as lojas para gerir estoques e processos de logística, sem ao menos um ponto de venda físico. O maior sistema de transporte global não possui um único carro em seus ativos.
Todos esses negócios só se tornaram possíveis pela atuação da TI. Porém, é evidente que eles não são comandados e nem foram criados unicamente por experts em tecnologia. E sim por empreendedores inovadores que definem a ideia, a estratégia e buscam a TI para operacionaliza-la. Seja ela de qual marca, modelo ou fabricante for.
É claro que a TI evoluiu. E sim, ela se tornou mais complexa. Mas seu uso se tornou intuitivo. A nuvem do cloud computing, por exemplo, mudou a forma como se contrata a tecnologia. Uma infraestrutura pesada de hardware é substituída por máquinas virtuais. O conhecimento que permitiu isso é complexo. Mas a forma de enxergar e de adotar por parte do usuário se tornou muito mais simples. Um gestor de marketing, por exemplo, não precisa mais de um técnico em TI para contratar a infraestrutura, ou o IaaS, necessário para rodar sua campanha online. O RH pode processar sua folha de pagamentos com um sistema na nuvem, ou SaaS, que vai lhe requerer apenas um login, senha e uma mensalidade em dia. A Cloud Computing é uma amostra do que se seguirá com a Internet das Coisas, a realidade aumentada, entre outros.
Muda a forma de se usar a TI e muda a forma de se decidir a TI. O velho conceito de que todo “brasileiro é um técnico de futebol” ainda pode ser exagerado. Mas não é delírio algum dizer que muito em breve, senão já, “todo colaborador da empresa é um potencial CIO”. As empresas de TI que não enxergarem isso vão se tornar, muito em breve, apenas parte da história passada.