A transformação digital vai exigir novas lideranças. O fato de um CIO estar ocupando a cadeira hoje não é garantia de que a ocupará no futuro
Nunca me senti confortável com o conceito de TI Bimodal. A minha primeira reação quando li pela primeira vez a respeito – ou sobre as duas velocidades de TI, como era originalmente chamado – era que certamente toda a TI deveriae trabalhar, ao menos, na mesma velocidade: alta. Tudo está conectado e em algum momento os sistemas de engajamento precisam ser integrados aos sistemas de registro. E se os processos, pessoas e tecnologia associados com os sistemas de back-office estão operando a uma velocidade diferente, então este, em última análise, irá limitar a capacidade da organização de se mover rapidamente no front-end.
Nada tenho ouvido ou visto nada no último par de anos capaz de mudar minha opinião. De fato, com mais empresas adotam negócios digitais, elas também estão descobrindo que os sistemas legados ou de back-office podem ter um papel fundamental a desempenhar na criação de experiências para o cliente. Se esses sistemas ainda estão sendo controlados, desenvolvidos e suportados à maneira antiga, vão restringir de imediato a capacidade da organização para responder rapidamente às mudanças em seus mercados.
E digital não é apenas sobre as áreas que lidam diretamente com os clientes do negócio. É também sobre como a organização trabalha internamente, como ela interage com parceiros e fornecedores, e quão rapidamente pode mudar o modelo de negócios para explorar as oportunidades e responder a ameaças. Isso, inevitavelmente, envolve muitos dos sistemas que o modelo bimodal seria classificar como Modo 1 (tradicional). Certamente agilidade e velocidade são tão importantes nestas áreas como são para aplicativos e soluções voltados para o cliente.
Algumas start-ups ou qualquer um dos conhecidos disruptores de mercado chegaram a adotar a abordagem de duas velocidades? Eu acho que é muito improvável. Se você estivesse construindo uma função de TI a partir do hoje, do zero, você não iria dividi-lo em dois grupos que trabalham de maneiras diferentes e em velocidades diferentes. Você criaria uma TI que opera inteiramente no Modo 2 (ágil e rápido). Então, por que o bimodal é apresentado como um modelo adequado para as empresas estabelecidas que estão sendo desafiadas por novos concorrentes construídos partindi das premissas de agilidade e velocidade?
Na melhor das hipóteses, a TI Bimodal deve ser vista como um trampolim para a transformação das plataformas tecnológicas, como um todo e do departamento de TI para o mundo digital. Não é, portanto, um estado final, mas mais um reconhecimento de que, ao transformar suas equipes e tecnologia para a velocidade dos negócios digitais, O CIO enfrentará inevitavelmente um período em que as diferentes áreas de TI estarão em diferentes estágios da jornada. Na verdade há uma probabilidade de haver várias velocidades ou modos de TI durante esta transição e não apenas duas.
Em novembro a Deloitte publicou os resultados de seu estudo 2015 CIO Global, baseado em pesquisas e entrevistas com mais de 1.200 CIOs e executivos seniores de TI de todo o mundo. Parte do estudo pediu aos entrevistados para identificar as características ideais de um CIO de sucesso. A notícia encorajadora é que a capacidade de influenciar as partes interessadas (79%) e as habilidades de comunicação interpessoal (70%) foram identificadas pela maioria significativa dos líderes de TI como sendo características ideais.
Talvez mais preocupante, porém, é que apenas 51% disseram que a visão da tecnologia e liderança foram chave para ser um CIO de sucesso, enquanto apenas 49% identificaram a capacidade de liderar em ambientes complexos e em constante mudança como sendo essencial para os executivos de TI. E ainda menos respondentes apontaram competências relacionadas ao desenvolvimento de capacidades digitais e a entender os mercados e suas perturbações como sendo importante para o CIO de hoje.
Eu diria que todas são habilidades essenciais para CIOs que querem desempenhar um papel fundamental na transformação digital da sua organização. Por exemplo, com outros departamentos cada vez mais envolvidos nos investimentos em tecnologia e com alguns até mesmo controlando seus próprios orçamentos de TI, já não é mais importante para os CIOs serem capazes de definir a visão e a direção geral de tecnologia na organização. Com os mercados digitais movendo-se rapidamente, eles são mais dinâmicos do que os mercados tradicionais e podem ser interrompidos com mais facilidade. CIOs desconfortáveis em tais ambientes irão rapidamente se ver à margem das decisões sobre TI, com outros executivos intervindo para preencher esta lacuna.
Embora estas respostas sejam preocupantes elas também não são surpreendentes e consistentes com a minha própria experiência. A comunidade de CIOs parece estar dividindo-se naturalmente em dois grupos distintos: aqueles que pensam que os velhos métodos de trabalho ainda são adequados (vamos chamá-los de CIOs Modo 1) e aqueles que entendem que o papel do CIO está mudando e que habilidades diferentes são necessários para ser bem sucedido no mundo digital (CIOs Modo 2).
A má notícia para os CIOs Modo 1 é que um modelo bimodal para a liderança de TI não é mais apropriado do que uma abordagem de duas velocidades para suas plataformas e departamentos. Como as empresas que adotaram o conceito bimodal estão começando a descobrir, sem dúvida, em algum ponto as partes mais lentas de seu ambiente de TI vão começar a restringir a organização e a dificultar a sua capacidade de competir nos mercados digitais em ritmo acelerado. E o mesmo vai acontecer com os próprios CIOs Modo 1; vai chegar um ponto – se já não estiver acontecendo – onde a incapacidade desses CIOs ou sua recusa em fornecer o tipo de liderança de TI e de direção necessária para transformação digital vai começar comprometer o negócio da empresa.
CIOs Modo 2, por outro lado, têm o que é preciso para liderar na era digital e estão desempenhando um papel fundamental na formação do modelo de negócio da organização, seus produtos e serviços. Em vez de ser ignorados ou marginalizados eles são a pessoa para a qual o resto da organização se volta para encontrar respostas e fazer as coisas acontecerem.
Tal como acontece com a função de TI, existe apenas um estilo de CIO adequado para a idade digital. Se os CIOs Modo 1 não conseguirem se adaptar, terão que ser substituídos.
Fonte: cio.com.br